O conceito de resiliência possui uma construção complexa e segundo pesquisadores, sua definição depende da diversidade de contextos em que esse recurso adaptativo se estabelece, seja em âmbito individual, familiar, organizacional, social ou cultural. Inclusive a origem da palavra resiliência é considerada imprecisa. Segundo a etimologia, o vocábulo deriva do Latim Resilio e é composto por duas partículas re (voltar) e salio (saltar), um salto para retornar a uma posição anterior. Michael Rutter (1993), pioneiro nas pesquisas sobre a resiliência aplicada à psicologia, buscou analisar o princípio de acordo com estudos da Física relacionados à resistência dos materiais, os quais quando submetidos a impactos não sofrem alterações. No contexto brasileiro, além dessa invulnerabilidade, levamos em consideração a capacidade que um corpo teria de retornar às suas propriedades originais mesmo após sofrer algum impacto.
Mas afinal, o que é resiliência? Como ela se manifesta? Na perspectiva da Psicologia, entende-se que uma pessoa é resiliente quando diante de um contratempo consegue enfrenta-lo, superá-lo e em alguns casos descobre que é capaz de ir além do esperado. Dessa forma, supõe-se que um indivíduo pode estar apto a encarar experiências estressoras em determinadas áreas da vida, mas isso não significa que esta habilidade esteja presente em todos os momentos.
Os dilemas da vida podem causar desorientação e a impressão de estar perdido ou sem saída. Diante disso, o ser humano vivencia sensações de medo, ansiedade, tristeza e angústia que estão relacionadas a sentimentos difíceis de lidar como o desamparo, a frustração e a impotência. E então o que fazer? O indivíduo pode reagir de diversas maneiras disfuncionais na presença de um momento de tensão, as mais comuns são paralisar-se diante dele ou evitá-lo. A intensidade do evento traumático, e a dificuldade de agir perante este fato, pode levar uma pessoa a desenvolver abalos emocionais significativos. Estas circunstâncias costumam ser frequentes em diversos períodos do desenvolvimento, nos quais é preciso se posicionar frente às adversidades, reorganizar o pensamento, retomar o equilíbrio e olhar o mundo com uma nova perspectiva como, por exemplo, diante da morte de um ente querido ou ao viver um divórcio.
O potencial resiliente pode ser estimulado e desenvolvido com a ajuda psicológica. O trabalho psicoterapêutico auxilia ao indivíduo a aceitar os desafios que se apresentam no dia a dia e a partir disso, compreender, elaborar e transformar um evento doloso em uma oportunidade única de evolução pessoal. São características da prática resiliente:
- Manejo das emoções: manter-se sereno frente a situações tensas;
- Controle da impulsividade: pensar antes de agir;
- Exercitar o otimismo: acreditar na mudança para melhor, fé e esperança;
- Observação do ambiente: identificar fatores estressores;
- Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro;
- Autoeficácia: desenvolvimento da autoconfiança para a resolução de problemas;
- Reconhecimento e expansão da rede de apoio: identificar as pessoas ao redor que podem oferecer acolhimento, carinho e apoio em períodos difíceis.
É preciso estimular criatividade, manter a mente aberta para conseguir enxergar novos significados nos momentos de tensão, não se desesperar e ser humilde para aceitar e buscar ajuda se não for possível lidar sozinho com seu sofrimento. É possível dar a volta por cima! Já dizia o ditado “se a vida te der um limão faça uma limonada”, na verdade o indivíduo pode explorar mais possibilidades: que tal uma caipirinha ou uma torta de limão?
Por: Sarah Reis Cintra Castello
Palavras chave: resiliência, estresse, desamparo, frustração, impotência, potencial, criatividade, possibilidades, impulsividade, otimismo, empatia, emoções, desafios, evolução; dilema, medo, ansiedade, tristeza, angústia.
Referências Bibliográficas:
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Brandão, Juliana Mendanha, Mahfoud, Miguel, & Gianordoli-Nascimento, Ingrid Faria. (2011). A construção do conceito de resiliência em psicologia: discutindo as origens. Paidéia (Ribeirão Preto), 21(49), 263-271. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2011000200014
SOBRARE. Guia rápido – O que é resiliência? E-book disponível em http://sobrare.com.br
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